sábado, 28 de janeiro de 2012

DESABAFO: O ABENÇOADO


Apanhei um susto quando, ao entrar num dos corredores do supermercado, um simpático cidadão, com um sorriso largo de orelha a orelha, me saudou brindando-me com um sonoro: “Deus o ama senhor!...” e continuou a verborreia, que eu já não consegui escutar pois inibido logo me escapei entre as prateleiras de especiarias e molhos de condimentos pré-embalados. Vim depois a encontrar o beatífico cidadão quando esperava na fila, pela minha vez de pagar as compras e escutei atrás de mim: “Deus a ama, minha senhora!” Era de novo ele saudando uma mulher que acabara de passar. Do mesmo modo ia brindando toda a gente que entrava no supermercado, com sonoras bênçãos, não reclamadas.

Desculpem-me a rudeza, mas desde que cheguei ao Brasil, eu que sempre me considerei tolerante, quase me tornei um encarniçado anti-religioso militante, desconfiando de tudo quanto tenha a ver com religião, ou o que com ela tenha alguma relação. Principalmente tudo que esteja relacionado com o chamado cristianismo evangélico.

Eu não ando por aí apregoando as minhas crenças e os meus dogmas. Porque terei de ser atingido pela insensatez daqueles que inseguros das suas escolhas, disparam sobre todos o seu fanatismo, pretensamente piedoso, na tentativa de conquistarem um suposto Céu à custa da conversão forçada de quem já vive muito bem e em paz sem um deus único e prepotente às costas?

Que me interessa a mim ser amado por um deus déspota e vingativo, que ao longo da história, descrita no livro sagrado que nomeiam de Bíblia, cometeu e instigou todo o tipo de atrocidades e crimes contra indivíduos e contra a humanidade?

Essa gente que se remeta ao exercício privado das suas opções supersticiosas. A religião é um assunto privado entre o indivíduo e os dogmas que escolhe. O respeito pela diversidade de identidade individual, assim como das opções alheias, é a base duma pacífica coexistência nas sociedades que se querem democráticas e livres.

A minha liberdade faz-se de não ter que ouvir constantemente esse chorrilho hipócrita de “se deus quiser”, “graças a deus”, “deus queira”, “deus é fiel”, etc, etc, etc...

As minhas opções e convicções (religiosas e outras) são comigo, não tenho de as ficar atirando à cara de ninguém. É uma questão de respeito pelo próximo, que espero seja retribuído do mesmo modo.

Bem Hajam!


O vídeo abaixo é uma montagem de imagens colhidas na Guatemala (desconheço o autor) ao som de "Miraculosa Rainha dos Céus" na voz de Isabel Silvestre.

8 comentários:

  1. Ia tranquilo pela rua, quando um carro passa por mim e lá de dentro alguém grita: "Jesus te ama!". Apanhei um susto e olhei em redor; não havia mais ninguém na rua. Felizmente meu namorado não ia comigo senão, ciumento como é, teria feito o maior escândalo para saber quem era esse tal de Jesus.

    hahaha

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  2. O meu comentário acima pode parecer anedótico, mas aconteceu mesmo. É assim o sempre inesperado quotidiano brasileiro.
    rsrsrs

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  3. Ficamos arredios com os cristão evangélicos com razão. Acho impressionante como eles tem coragem de chamar aquele deus sádico e vingativo deles de amoroso e misericordioso.

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  4. º° ✿ ✿⊱╮
    Amigo, voltei!...
    Entendo o seu desabafo.
    A minha maior tortura é quando chamam no meu portão, geralmente domingo, quase na hora do almoço.
    Para oferecer a salvação em revistas.
    Como se as ler resolvessem todos os problemas da vida...
    Mas, infelizmente eles acreditam nisso, não importa o que aconteça... e isso é o que é mais triste.
    Boa semana!
    Beijinhos.
    Minas.

    º° ✿ ✿⊱╮

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  5. Amigo Man!
    Tens razão quando estas coisas acontecem, dá uma vontade louca de responder algo meio rude, do tipo:
    "Eu sei, mas eu acho que ele não gosta de ti.", por exemplo.
    Mas, sabes, o que mais me impressiona é ver que estas loucas religiões estão se propagando pelo mundo àfora e uma amiga que veio da Itália me contou noutro dia que, por lá, pasme, já tem um bocados desses fanáticos.
    Como dissestes, religião é um exercício privado, mas as pessoas não se tocam disso, infelizmente.
    grande abraço, carioca

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