Quero hoje contar um episódio da
nobre fundação de Portugal. Uma nação arquitectada por homens e mulheres
valorosos e dignos.
Aio (ou aia) era alguém nomeado
para ficar encarregue da educação de crianças ilustres e nobres. Normalmente o
aio, ou a aia, ficavam para sempre ao serviço do seu senhor, ou senhora, no que
hoje poderíamos chamar de serviço de assessoria.
D. Afonso Henriques, ou D.
Afonso I de Portugal, foi o fundador da Nação Portuguesa, ao resgatar a
autonomia do Condado Portucalense da suserania de D. Afonso VII de Leão e
Castela.
Egas Moniz era aio de D. Afonso
Henriques.
Aquando das disputas entre os
primos(*) beligerantes, Afonso de Leão (rei) cerca Guimarães, onde Afonso de Portucale (conde) havia sediado o seu exército separatista. Egas Moniz com o seu estatuto de
preceptor do jovem conde e o respeito devido que a idade lhe conferia, arroga-se como
negociador da paz e promete ao rei a submissão de D. Afonso Henriques.
Mas o conde, apoiado por uma
larga elite Portucalense que apenas visa a autonomia do condado e sua completa
independência, logo pega de novo em armas contra o rei, rompendo o acordo.
Egas Moniz apresenta-se então
perante D. Afonso VII com toda a sua família, em vestes de condenados, pondo as
suas vidas e honra ao dispor do rei. Este, reconhecendo a nobreza de carácter
do aio e a lisura das suas intenções, perdoou-o e ainda lhe ofereceu favores.
De volta à corte portucalense o aio também recebeu grandes favores de D. Afonso
Henriques, pela sua fidelidade e honradez.
Mas isto era na barbárie dos tempos
feudais, da chamada Idade Média. Agora os tempos são outros. Agora vivemos
tempos mais civilizados e, tanto tecnologicamente como cientificamente,
superiores. Tempos em que a honra foi mandada às ortigas. Falar em honra nos salões e corredores
do poder hoje é uma anedota.
(*)Nota: D. Afonso Henriques e D.
Afonso VII eram primos directos. As mães de ambos eram meias-irmãs, filhas de
Afonso VI de Leão e Castela.