Olhando a foto...
O menino sobre a ponte segura o
fio que prende o papagaio esvoaçando no ar.
A ponte eleva-se acima dum
córrego imundo e contaminado, ao lado do qual se estende uma terraplanagem, que
deixa adivinhar mais uma via rodoviária de circulação rápida, para escoar a
ansiedade dos moradores nervosos das comunidades que se amontoam nas margens.
Dum lado e doutro do veio
central, composto pelo menino e a terra barrenta, apinham-se os barracos
favelados, das gentes que sustentam o mundo sobranceiro dos que vivem nos
edifícios altos; arrogantes na sua ostentação de supremacia de minoria
endinheirada.
Ao fundo uma torre esguia
ergue-se agoirenta. Apontando as negras nuvens, lembra as sinistras chaminés
fabris que glorificam a revolução industrial.
O menino, com os seus trajes
coloridos e o relógio de plástico no pulso, pertence a esse submundo dos que
são combustível para alimentar a paisagem capitalista. Ele vive por aí, algures,
num desses barracos, na favela, na indigência disfarçada dos novos-escravos.
Foto: © Florêncio Mesquita,
Manaus, AM