Todos queremos o regresso à normalidade nas ruas do Cairo e de modo geral por todo o Egipto, mas a população que nas ruas se mantém firme, para que a sua vontade seja respeitada e atendida, sabe que regimes totalitários não são de confiar. Então à que resistir!
Não nos podemos imbuir do habitual paternalismo ocidental, querendo ditar os destinos de outros povos e nações. “Temo que se instale um governo religioso radical no Egipto, pois isso não seria bom para o povo” é uma afirmação comum. Achar que sabemos melhor o que seria bom para eles é apenas a manutenção duma mentalidade colonialista, tão usual na douta civilidade europeia. Sempre ouvi dizer que cada um sabe de si. Cabe ao povo egípcio decidir sobre o seu destino. Mesmo não crendo que o que motivou este levantamento (dinamizado por gente de variadas ideologias e estatutos) fosse a vontade de trocar uma ditadura por outra, se tal viesse a acontecer só teríamos de respeitar a vontade dos egípcios.
Toda a responsabilidade sobre os lamentáveis confrontos nas ruas do Cairo recai sobre Mubarak e a sua obsessão pelo poder. Quanto mais tempo demorar a retirar-se mais caos provocará; e nem precisará instigar os seus capangas contra os manifestantes, como tem estado a fazer.
Uma multidão é terreno fértil para a instalação do caos. Outra coisa não será de esperar, senão desordem, da manutenção duma turba exaltada à solta pelas ruas. E a responsabilidade será sempre das autoridades, que neste caso se aproveitam desse conhecimento para atingir os seus propósitos.
Vazios de poder são sempre muito perniciosos. Um governante, que queira preservar bom nome para a história, deverá cuidar para que a transição do seu mandato se faça de modo pacífico e a contento de todos. Sim é possível contentar todos, desde que não sejamos radicais nas escolhas. O povo não é estúpido e os egípcios já demonstraram bem a sua lucidez e presença de espírito.
Depois do sucedido na Tunísia e agora no Egipto, por todo o mundo de influência árabe governos opressores tomam medidas para evitar o desagrado das populações. Assim, até já o governo da escaldante Argélia já anunciou a liberalização de manifestações organizadas de protesto. Não será muito, alguns poderão argumentar que isso não é nada, mas denota que a lição está a ser entendida. Esperemos que a aprendam.