A jovem aborda a faixa tracejada para peões (pedestres, br), riscada sobre uma lomba, com o intuito de motivar os automobilistas a pararem, respeitando a obrigatoriedade de darem prioridade aos peões, numa via de circulação interna do parque de estacionamento dum grande shopping. Ela avança, sem notar que pela sua esquerda um enorme mono-volume continua vindo sobre ela, em desrespeito pela regra do código que o obriga a parar antes da faixa sinalizada e dar passagem a quem está atravessando. A moça recebe uma pancada, ao ser atingida pela viatura e cambaleia, mas consegue manter-se em pé – provavelmente porque não usava aqueles atentados à saúde feminina, que são os enormes saltos altos. Atordoada ela sai de frente do carro e pede desculpa ao motorista.
DESCULPA?! Então ela acaba de ser agredida, atropelada, violentada no seu direito de transeunte ao cumprir o que a lei lhe pede (peão deve atravessar na faixa sinalizada, onde ganha prioridade sobre os veículos em circulação numa via condicionada e de velocidade limitada) e ainda acha que tem de pedir desculpa? A besta, que ia ao volante, é que deveria ter saído da viatura e assegurar-se se a vítima, da sua imprudência e falta de educação cívica, estava em perfeitas condições físicas e não havia sofrido algum dano ou ferimento. A besta que conduzia a viatura é que tinha muitas desculpas a pedir! Mas a besta nada disso fez. Limitou-se a retomar a marcha e seguir em frente. E continuará a não dar prioridade quando deveria fazê-lo.
Esta atitude de submissão das pessoas à prepotência abusiva dos condutores, tem levado a uma cada vez maior perigosidade nas estradas e vias públicas do Brasil, onde em maior parte dos estados e cidades o transeunte é olhado como um ser inferior e sem direitos. Pelos motoristas, os transeuntes são olhados apenas como coisas que saem à rua para estorvar a sua ânsia de pisar o acelerador e se declararem senhores absolutos da estrada. Dir-se-ia que as mentalidades não mudaram muito desde a publicação da Lei Áurea - quem não tem carro não passa dum miserável, um indigente sem posses nem estatuto: um escravo, ou seja, uma coisa sem direitos.
Nota: O caso ocorreu na passagem de peões (pedestres, br), que atravessa as vias internas do parque de estacionamento dos clientes, ligando à paragem de transportes públicos que servem o Shopping Recife (em Boa viagem, Recife).