Antigo Mercado Modelo do Derby, Recife
Entrei no mercado e logo fui
envolvido pela mistura de aromas, cores e burburinho. Gente movendo-se para cá
e para lá, atarefada.
A manhã estava quente. Lá fora o
sol abatia-se ferozmente sobre tudo que se expusesse na rua apinhada de gente, veículos
motorizados de toda espécie e barracas de venda oferecendo toda a variedade de
produtos. O cheiro de fruta podre, acumulada na berma da rua, misturado ao de
urina, vindo dos becos transversais, impregnava o ar, sufocante de quente, com
um odor nojento e insalubre. Mas a populaça apressava-se indiferente;
comprando, regateando e apressando-se indiferentemente.
Aliviado por conseguir fugir do
inferno da rua, alegrei-me por ver que na primeira banca havia o que procurava.
Dirigi-me com simpatia ao vendedor do outro lado do balcão, um jovem
aparentando uns 30 anos com bom aspecto.
- Bom dia, meu querido! –
saudou-me ele com simpatia, atirando-me um largo e animado sorriso. Eu vacilei,
embaraçado com a intimidade, mas sem perder a cordialidade.
Eu indaguei sobre a mercadoria
que pretendia e os preços. Ele sempre me respondia com alegria e a mesma
intimidade cúmplice de “meu amor”, “meu lindo”, “meu querido”. Os seus olhos brilhavam de simpatia e o meu
amor-próprio coruscava, lustrado pelos seus epítetos sedutores. Claro que eu
não iria deixar de comprar o que quer que ele me quisesse vender.
Depressa o espanto se diluiu
perante a realidade. Afinal eu estava noutro continente, entre as gentes dum
outro povo, com hábitos e posturas bem diferentes daquelas com que toda a vida
convivera. Logo percebi que seria muito mais fácil viver sendo apaparicado,
mesmo que verbalmente, por quem se cruzasse no meu caminho.
E foi com um tímido “Tchau, meu
querido!” que arrisquei meu primeiro envolvimento com esse à vontade no trato,
que tão bem me sabe ao ego e amor-próprio.
1 comentário:
ainda bem que ficou só nisso! rs
de qualquer forma, as pessoas por aqui não vão além dessa intimidade verbal...
adorando estas crônicas!
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