segunda-feira, 11 de novembro de 2013

16A



Dezasseis anos. Calmo, estudioso, afável. Filho duma família harmoniosa de classe média alta. Aluno regular e com notas boas. A mãe, zeladora, queria mais. Esperava que o sucesso escolar do filho fosse uma porta aberta para uma carreira brilhante. Exigia.

O jovem exasperou-se. Reacção comum aos adolescentes. Discutiram. Ele pegou numa faca sobre o balcão da cozinha e agrediu a progenitora amada. Ela fugiu para o quintal. Ele foi atrás e arrastou-a para dentro, acabando de esfaqueá-la com ferimentos fatais.

A polícia foi chamada, pelos vizinhos alertados pela inabitual gritaria. Encontraram a mulher jazente e o filho, por ela denunciado no seu último estertor, de banho tomado, escutando música tranquilamente no seu quarto.

Esta história é verídica. Não interessa quem eram, nem onde ocorreu. Não vem ao caso sobre o que quero falar. Os dados que forneci são suficientes. 

Somos humanos. Somos impelidos por instintos e sentimentos. Ser educado, ser civilizado, ter sentido cívico é saber controlar ambos: instintos e sentimentos. É isso que se espera para podermos viver em sociedade.

Antes de exigir metas a família tem de ensinar limites às crianças. NÃO é uma palavra muito frequentemente esquecida no diálogo entre pais e filhos, mas deveras fundamental. Um NÃO e um SIM na altura certa são o modo mais correcto das crianças entenderem as regras do jogo que é viver em sociedade.

Durante a adolescência os jovens vivem um turbilhão. São hormonas de crescimento acelerado, pressão para que encontre o seu lugar e estatuto na sociedade, ansiedade emocional para entender toda uma avalanche de novos sentimentos que em si despertam, avassaladoramente desafiadores. Não sabem lidar com isso tudo e o prazo é para ontem. A agressividade e crueldade primárias, comuns na infância, por vezes ainda não foram controladas, domesticadas. É o momento de adquirir as ferramentas que lhe confiram o direito de ser considerado um ser humano sociável, com os deveres e direitos que tal implica.

De modo nenhum podem ser desresponsabilizados pelos seus actos. Mesmo sem haverem adquirido completamente o necessário saber de como controlar os seus impulsos, eles têm noção da gravidade de possíveis comportamentos nocivos. Não são inocentes destituídos de consciência. Devem responder pelos seus comportamentos, com rigor e justiça. Devem assumir as penalizações que lhes possam decorrer dos seus actos nocivos, assim como seriam premiados pelos seus sucessos louváveis.

Imagem: "Hoodie Stab" de Banksy