segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O MENINO E O PAPAGAIO


Olhando a foto...

O menino sobre a ponte segura o fio que prende o papagaio esvoaçando no ar.

A ponte eleva-se acima dum córrego imundo e contaminado, ao lado do qual se estende uma terraplanagem, que deixa adivinhar mais uma via rodoviária de circulação rápida, para escoar a ansiedade dos moradores nervosos das comunidades que se amontoam nas margens.

Dum lado e doutro do veio central, composto pelo menino e a terra barrenta, apinham-se os barracos favelados, das gentes que sustentam o mundo sobranceiro dos que vivem nos edifícios altos; arrogantes na sua ostentação de supremacia de minoria endinheirada.

Ao fundo uma torre esguia ergue-se agoirenta. Apontando as negras nuvens, lembra as sinistras chaminés fabris que glorificam a revolução industrial.

O menino, com os seus trajes coloridos e o relógio de plástico no pulso, pertence a esse submundo dos que são combustível para alimentar a paisagem capitalista. Ele vive por aí, algures, num desses barracos, na favela, na indigência disfarçada dos novos-escravos.

Foto: © Florêncio Mesquita, Manaus, AM