terça-feira, 23 de março de 2010

NÓS, OS OUTROS

Muitos jovens, inteligentes, interessados, criativos, abandonam a escola sem terem terminado algum curso que estaria perfeitamente ao seu alcance. Porquê?

A frequência dum estabelecimento de ensino pode ser algo deveras traumatizante. A aspereza do sistema que impõe metas que para os mais novos fazem muito pouco sentido, ou sentido nenhum. A brutalidade dos ritmos de horários que nada têm de natural. A opressão a vários níveis, que castram a criança e o jovem em busca duma iniciação ao relacionamento social. Enfim, a própria violência crua dos seus congéneres juvenis, que os mais sensíveis acabam por não conseguir evitar e suportar.

O sistema educativo não está pensado para a formação de seres humanos naturais, mas para a formatação de elementos integrantes dum sistema produtivo/consumidor. E aqueles que acabam por se verem excluídos dessa formatação... bem, esses são os eternos desenquadrados da vida. Muitos deles talentosas almas incapazes de entenderem, desenvolverem, implementarem e divulgarem os invulgares dons que entorpecidamente esperam a hora de desabrochar. Hora essa que na quase totalidade dos casos nunca chega, ou chega perante uma plateia incapaz de reconhecer a sua utilidade e genialidade.

E são olhados com desconfiança e o inevitável preconceito. Apelidados de todos os defeitos, que não o são. Desde tolos, vadios, inúteis, preguiçosos, ..., todos os epítetos mais depreciativos lhes são atribuídos. E levam toda uma vida procurando um lugar que sempre lhes será negado; apenas porque não são como os demais. E não o são pois não conseguem deixar de ser humanos para passarem a ser umas coisas amestradas no sistema produtivo.

domingo, 21 de março de 2010

DOMINGO DE PRIMAVERA

Num Domingo de Primavera, com sol e sem história. Ao som de bom velho Hard Rock (Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, Uriah Heep, Jethro Tull, ZZ Top, Nazareth, The Who, Queen...)e curtindo a mesma depressão de sempre... fico longe da paranóia da vida urbana desta sociedade de consumo, aqui fechado no meu recanto, sombrio e resguardado.

Na Tv mostram um documentário sobre voluntariado num miserável bairro de barracas numa das super povoadas e ricas cidades indianas, em que a refeição que as crianças tomam na escola será a única durante todo dia. E como podem dizer que a Índia é uma das mais florescentes economias mundiais e um dos motores de desenvolvimento económico da Ásia?

Carlos Slim Hélu é o homem mais rico do mundo, com 53,5 mil milhões (bilhões) de Dólares Americanos. Eu pasmo com isto! Num país onde há tanta fome e miséria, de onde milhares de habitantes fogem, arriscando a vida ao tentar melhor sorte emigrando ilegalmente por todos os modos, para os vizinhos USA, como pode alguém se vangloriar de ter uma tão obscena fortuna pessoal? É certo que o senhor Carlos Slim contribui com grande parte da sua fortuna para fins filantrópicos, tanto em acções de índole social como cultural. Mas mesmo assim acho inconcebível que alguém movimente uma fortuna pessoal superior ao orçamento de estado de muitos pequenos países.

Muito tenho ouvido falar sobre o sono. Vive-se a obsessão da acção. É preciso fazer! É preciso mostrar capacidades! É preciso mostrar resultados! É preciso alcançar metas! Tempo é dinheiro! Uma carreira de sucesso é uma vida realizada! Agir! Estar atento! Estar desperto! Parem!

Parem!!!...
Vamos pensar um pouco. Vamos pensar em nós. Vamos pensar que somos humanos e que estar vivo é já em si um motivo de felicidade. A felicidade não é um prémio no final duma corrida desenfreada sem olhar a quem nem a como. Para que queremos nos rodear de tanto conforto e qualidade material de vida, se depois vivemos como uns paranóicos dementes, escravizados por ideais completamente alucinados?

E no meio de toda esta loucura urbana e consumista perdemos o sentido do que é a vida de um organismo humano. Até perdemos a noção do que é o sono e de como se dorme. E se a existência urbana já é doentia e nociva, um pernicioso desleixo com as prioridades do ócio e descanso, torna-se perigosamente grave.

Não somos máquinas! Somos pessoas! Vivamos como tal!!!

E num domingo de sol eu continuo fitando a estrada em frente... a estrada que leva ao futuro.

terça-feira, 16 de março de 2010

MORREU PETER GRAVES



Recebi um email com um texto da autoria do meu amigo Francisco Lucas. Pela qualidade do mesmo pedi-lhe autorização para o divulgar, ao que ele acedeu. E aqui o estou fazendo.

O papel que tornou famoso Peter Graves foi o de Jim Phelps na inesquecível série de televisão "Missão: Impossível". Este personagem era o líder de uma equipa de espiões que levava a cabo missões dificílimas, as quais só tinham sucesso graças a um planeamento extremamente ousado e elaborado e aos inúmeros recursos e talentos dos seus elementos.

Jim Phelps era aquele a quem eram atribuídas superiormente as missões, tendo ele depois a liberdade de escolher os agentes que melhor se enquadravam nos planos geniais que arquitectava para concretizar o objectivo. Em plena Guerra Fria, esta combinação fantástica de espionagem, suspense e um pouco de ficção científica (servida por argumentos de grande criatividade), aliada ao charme e carisma dos actores (sobretudo o par Martin Landau e Barbara Bain, mais tarde protagonistas do "Espaço: 1999"), tornou a série num dos melhores produtos televisivos de sempre, única no seu género e absolutamente inimitável.

Infelizmente, quando "Missão: Impossível" passou ao cinema, era necessário que a vedeta (e produtor) Tom Cruise pudesse brilhar. Assim, logo no primeiro filme, a sua personagem (equivalente à de Martin Landau nos anos 60) torna-se o herói, enquanto que, numa reviravolta surpreendente, o incorruptível Jim Phelps (no filme interpretado pelo pai de Angelina Jolie, Jon Voight) se revela um traidor sem escrúpulos!

Deste modo - e não negando o valor dos três filmes da série como boas fitas de acção -, perverteu-se o espírito da série original, tornando-se a "Missão: Impossível", para as gerações mais novas, nas aventuras do agente Ethan Hunt, que, embora também convocando os seus colaboradores para as missões, tem sempre o foco das atenções a incidir sobre si (ou não fosse o actor quem é).

Esperemos que haja muitos reruns da série nas televisões de todo o mundo, matando a saudade dos mais velhos e cativando os mais jovens para um grande programa de televisão, inteligente e elegante, sem excessos a nenhum nível, ao qual apetece sempre voltar, o que é bem raro nos nossos dias.
Não quero com isto negar que não estejamos a viver uma época em que há muitas e boas séries de televisão; mas quantas delas se tornarão clássicos? De quais nos lembraremos daqui a uns 5 ou 10 anos? Depois de vermos a conclusão de "Lost", apetecer-nos-á voltar a ver essa série? Teremos alguma vez vontade de comprar os DVDs de "Eureka", "Lie to Me" ou "Burn Notice"?

Foi sempre assim em televisão e cinema, tal como na comida: há o fast food, que nos sabe bem quando estamos a comer, mas depois de fazermos a digestão já esquecemos o que foi o almoço; e há aqueles momentos de puro prazer gastronómico que não esquecemos e gostaríamos de repetir logo que possível.

Os filmes com Tom Cruise têm o seu interesse, serão um pouco mais que fast food, mas não chegam aos calcanhares da haute cuisine que é a série que, embora imbuída do zeitgeist daqueles anos tão especiais (em que o mundo, como a televisão, era a preto e branco e não em incontáveis tons de cinzento como o do tempo presente), se tornou um clássico e ficará para sempre na memória de muitos de nós. O Jim Phelps de que me quero lembrar não é o assassino corrupto do filme de Brian de Palma, é o líder impoluto e de grande estatura moral da série de televisão, interpretado com o talento contido e discreto e a desenvoltura elegante de Peter Graves.

À sua memória, com saudade.

Francisco Lucas

domingo, 14 de março de 2010

PROFESSOR E ALUNO



Um dia um adolescente, de 12 anos, suicida-se por causa de bullying. Outro dia um professor vai parar ao hospital, de onde sai de muletas, vítima de violência física de um aluno de 13 anos, que em plena aula lhe atira com uma cadeira e a mochila. Sabe-se então que um mês antes outro professor se havia suicidado por já não suportar mais as injúrias e achincalhamento dos alunos numa turma problemática. E tudo isto em várias escolas de diferentes localidades portuguesas. Num dos países mais pacíficos e ordeiros da paradigmática civilizada Europa.

Mas que se passa? Algo vai mal no reino da educação! E isto não somente em Portugal! Por todo o mundo encontramos os mesmos sinais de rebelião e desrespeito pelas normas de conduta e civilidade que nos guiaram por milénios.

Os paradigmas caem de seus pés de barro. Os modelos rebelam-se e alternam. Os propósitos não são mais os mesmos. Todo o corpo social se revolve num preâmbulo de anarquia e caos. Afinal prefigura-se uma generalizada ruptura cultural, nas mais variadas tradições nacionais e regionais.

Mas não podemos ficar pela observação passiva da constatação do anunciado óbvio. É necessário que cada um faça a sua melhor parte! Está lançada a corrida ao design dos arquétipos do futuro. Que O Divino nos ajude! E inspire!!!

domingo, 7 de março de 2010

DISTIMIA

A cabeça parece estourar numa angústia que não sei de onde vem, ou o que a origina. Apenas sei que tudo em redor me agride e ameaça, como se eu fosse um animal encurralado pelos caçadores mais sanguinários do universo.

A Distimia é uma doença do foro psíquico que se caracteriza por um estado depressivo contínuo, num período muito longo de tempo, contado em anos. E que se não for devidamente tratado, com fármacos e psicoterapia, não sofrerá remissão expontânea, podendo permanecer indefinidamente.

É uma doença socialmente incapacitante pelos sintomas que a caracterizam. Isso pode ver-se pelo perfil de sintomas que a podem caracterizar:
  • Falta de apetite ou apetite em excesso
  • Insónia ou hipersonia
  • Falta de energia ou fadiga
  • Baixa auto-estima
  • Dificuldade de concentração ou de tomada de decisões
  • Sentimento de falta de esperança

Não é necessária a apresentação de todos estes sintomas para o diagnóstico da Distimia, sendo no entanto necessária a presença de pelo menos dois deles. O principal factor a considerar é a prevalência dum estado depressivo por mais de dois anos, ao longo dos quais não hajam períodos de ausência de sintomas por mais de dois meses.

A Distimia desenvolve-se de forma gradual, muitas vezes sem que os técnicos consigam, ao início, determinar se a pessoa está ou não desenvolvendo um quadro distímico. O diagnóstico preciso só pode ser feito depois da síndrome estar instalada.

A Distimia, embora apresente sintomas de depressão ligeira, não impede que a pessoa desenvolva depressões mais profundas (casos de Depressão Dupla). Aí o seu mau-estar habitual vai se agudizar numa dor mais intensa e num agravamento de sintomas como os relacionados com as capacidades cognitivas, ou de avaliação e decisão. O paciente envereda então por atitudes que não o favorecem e que não consegue posteriormente entender nem reverter.

Devido ao perfil dos sintomas, o paciente distímico assume uma postura anti-social, que o incapacita para o cumprimento das tarefas comuns e essenciais para a sua subsistência, como seja o desempenho de funções profissionais e o convívio familiar e social. O comportamento mais comum é o isolamento em casa, sem receber visitas ou mesmo sem atender o telefone.

O meio familiar em que o paciente se enquadra tende a exigir dele uma mudança positiva, o que é de todo despropositado, pois devido ao seu estado depressivo isso lhe é impossível. Como dizia um psiquiatra: "É o mesmo que pedir a alguém com pneumonia que pare de tossir".

Irritabilidade, impaciência, diminuída capacidade produtiva e débil agilidade mental, são sintomas que o paciente percebe em si e que muito sofrimento lhe causam, mais ainda por perceber a sua imensa incapacidade para os contrariar e contornar. Pungente é a constatação da incapacidade de mobilização da sua própria vontade.

É este o meu quotidiano, a minha realidade diária. O dia-a-dia que conheço e de que é feita a minha vida e daqueles que se acercam de mim e que me amam.

Fontes: Wikipedia e Psicosite

sábado, 6 de março de 2010

12 ANOS


Saiu da escola com intenção de pôr termo ao martírio. O suicídio era ideia fixa na sua jovem mente de adolescente atormentado pela perseguição dos colegas que o violentavam e infernizavam. Amigos o seguiram alarmados tentando demovê-lo; o primo chegou a pegar-lhe nos pulsos, num desespero de o levar a reconsiderar. Mas ele desembaraçou-se, correu, despiu-se e lançou-se às águas frias do rio. Tinha 12 anos.

O bullying sempre fez parte do crescimento das crianças, mas o facto não justifica o comportamento. Muito menos num mundo, como o nosso, em que a competitividade é percebida como prioridade. Há hábitos e comportamentos inaceitáveis numa sociedade que se pretende educada e respeitadora dos princípios de dignidade humana.

terça-feira, 2 de março de 2010

A MÃO



A união dos senhores Alberto João Jardim e José Sócrates em conjugação de esforços para a reconstrução da Madeira é um exemplo a seguir, para se elevar a política nacional acima das querelas infantilóides de críticos sem outro critério que não o do bota-abaixo.