quinta-feira, 20 de março de 2014

O MACAQUINHO DO CIRCO



Sou eu! O português, o gringo (como aqui chamam aos estrangeiros), o forasteiro. Exibido como uma curiosidade, por alguns com arrogante escárnio disfarçado, por outros como troféu chique invejado, e também como uma futilidade charmosa, para ser logo esquecido e ignorado... descartado. Num meio de gente insegura e receosa, qualquer anomalia fora do padrão rígido determinado pelos tabus, é motivo de desconfiança. Grande desconfiança.

Saudado e acolhido com uma afabilidade imediata (mas não espontânea), essa mesma se esvai na primeira oportunidade de ser confrontado com um passado histórico mal aprendido e, interpretado com rancores seculares, alimentados por uma ignorância ostensiva.

Não tenho nome. Como gringo não mereço. Sou designado pela minha proveniência: “o português”. É mais fácil, para manter distâncias. Para me manter fora da esfera de intimidades. Afinal estrangeiro é um corpo estranho, que deve ser mantido sob observação e escrutínio constante. Tudo que faça de correcto “é porque estou assimilando a influência do meio em que agora vivo”, enquanto tudo que faça de errado “é a prova de que carrego em mim tudo o que de desprezível o colonizador histórico é acusado”.

O macaquinho do circo, que tem que ser domado e amestrado. “Para viveres cá tens de aprender a ser como nós!” Ou seja, perder a minha identidade, a minha individualidade. É, e continuará assim.