Dezasseis anos. Calmo, estudioso,
afável. Filho duma família harmoniosa de classe média alta. Aluno regular e com
notas boas. A mãe, zeladora, queria mais. Esperava que o sucesso escolar
do filho fosse uma porta aberta para uma carreira brilhante. Exigia.
O jovem exasperou-se. Reacção
comum aos adolescentes. Discutiram. Ele pegou numa faca sobre o balcão da
cozinha e agrediu a progenitora amada. Ela fugiu para o quintal. Ele foi atrás
e arrastou-a para dentro, acabando de esfaqueá-la com ferimentos fatais.
A polícia foi chamada, pelos
vizinhos alertados pela inabitual gritaria. Encontraram a mulher jazente e o
filho, por ela denunciado no seu último estertor, de banho tomado, escutando
música tranquilamente no seu quarto.
Esta história é verídica. Não
interessa quem eram, nem onde ocorreu. Não vem ao caso sobre o que quero falar.
Os dados que forneci são suficientes.
Somos humanos. Somos impelidos
por instintos e sentimentos. Ser educado, ser civilizado, ter sentido cívico é
saber controlar ambos: instintos e sentimentos. É isso que se espera para
podermos viver em sociedade.
Antes de exigir metas a família
tem de ensinar limites às crianças. NÃO é uma palavra muito frequentemente
esquecida no diálogo entre pais e filhos, mas deveras fundamental. Um NÃO e um
SIM na altura certa são o modo mais correcto das crianças entenderem as regras
do jogo que é viver em sociedade.
Durante a adolescência os jovens
vivem um turbilhão. São hormonas de crescimento acelerado, pressão para que
encontre o seu lugar e estatuto na sociedade, ansiedade emocional para entender
toda uma avalanche de novos sentimentos que em si despertam, avassaladoramente
desafiadores. Não sabem lidar com isso tudo e o prazo é para ontem. A
agressividade e crueldade primárias, comuns na infância, por vezes ainda não
foram controladas, domesticadas. É o momento de adquirir as ferramentas que lhe
confiram o direito de ser considerado um ser humano sociável, com os deveres e
direitos que tal implica.
De modo nenhum podem ser
desresponsabilizados pelos seus actos. Mesmo sem haverem adquirido completamente
o necessário saber de como controlar os seus impulsos, eles têm noção da
gravidade de possíveis comportamentos nocivos. Não são inocentes destituídos de
consciência. Devem responder pelos seus comportamentos, com rigor e justiça.
Devem assumir as penalizações que lhes possam decorrer dos seus actos nocivos,
assim como seriam premiados pelos seus sucessos louváveis.
Imagem: "Hoodie Stab" de Banksy
1 comentário:
Esticar a corda é sempre perigoso, ainda mais quando temos na frente alguém numa idade complicada como é a adolescência ou, então, quando já não se tem nada a perder.
E uma hora de desatino , toda a gente pode ter, sem dúvida nenhuma.
Bom dia de S. Martinho, meu bem
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