Sobre o verde da relva aparada,
um lençol branco se agitava, revolvia, tapava e destapava dois jovens,
apaixonados. Um vestia uma camisa azul e outro uma camisa rosada.
- São dois rapazes. – afirmou
Tau.
- Não são, não! É um rapaz e uma
rapariga. – contestou Ant.
- Não são, não! São dois rapazes
como ele disse! – apoiou Fer.
- Não pode ser! É um rapaz e uma
rapariga! – insistiu Ant.
- Eu para mim, parecem-me dois
rapazes – reafirmou tranquilamente Tau, sem querer parecer indelicado.
Mas, continuámos os três em
direcção ao transporte que nos levaria ao destino seguinte, do nosso roteiro
turístico.
O que causava tanto embaraço na
definição do sexo dos namorados, nem era a dificuldade de lhes distinguir as
feições devido à distancia a que estavam de nós, mas ao facto de tal cena se
passar no meio de um amplo relvado (gramado, br) em plena Praça da República;
um dos pontos nobres e turísticos por excelência, da cidade de Recife. Isto num
pais, o Brasil, onde os crimes de homofobia são uma prática quotidiana, com estatísticas
e números de ocorrências assustadores, senão mesmo apavorantes. Em 2011,
segundo dados do governo central, foram registados 6800 casos de violações dos
direitos de integridade física e 278 mortes por homofobia. Só nos primeiros 6
meses de 2012 foram assassinados 165 homossexuais (de ambos os sexos). Muitos
dos casos de agressão e homicídio são perpetrados por membros da própria família
da vítima.
Finda a agradável tarde de
passeio pela cidade o nosso transporte voltou a circular pela mesma praça e lá
estavam os dois jovens dobrando as cobertas onde haviam repousado e arrumando a
trouxa de pic-nic. Então, em pé e se movimentando, deu bem para ver claramente
que se tratava dum casal de rapazes. Os seus olhos continuavam se cruzando com
carinhosa cumplicidade e seus lábios tocavam-se em leves beijos.
O espanto e a curiosidade foi
geral, entre o nosso grande grupo de veraneantes. Entre nós os três, o acordo
foi firmado com tranquilidade e até alguma satisfação, pela digna e tranquila
coragem com que os jovens em causa assumiam o seu amor.
Nota: Pernambuco é um dos estados brasileiros onde a união estável entre pessoas do mesmo sexo é reconhecida e registada oficialmente. Assim também Recife é um município que promove campanhas anti-homofobia, tentando se mostrar como uma cidade gay-friendly. Contudo uma coisa é a lei e a vontade política da nação, outra é a mentalidade popular e a livre propaganda criminosa de facções religiosas odientas e fanáticas.
3 comentários:
pois é... eu achei uma cena linda de se ver e que mais cenas assim aconteçam!
beijos meu amor
Parabéns a Pernambuco e em particular ao Recife ... q se fodam os boçais q insistem em nadar contra a corrente ...
bjão
Mas já é muito bom que, legalmente, as coisas sejam aceites!
Beijinhos
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