quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CORES




Sobre o verde da relva aparada, um lençol branco se agitava, revolvia, tapava e destapava dois jovens, apaixonados. Um vestia uma camisa azul e outro uma camisa rosada.

- São dois rapazes. – afirmou Tau.
- Não são, não! É um rapaz e uma rapariga. – contestou Ant.
- Não são, não! São dois rapazes como ele disse! – apoiou Fer.
- Não pode ser! É um rapaz e uma rapariga! – insistiu Ant.
- Eu para mim, parecem-me dois rapazes – reafirmou tranquilamente Tau, sem querer parecer indelicado.

Mas, continuámos os três em direcção ao transporte que nos levaria ao destino seguinte, do nosso roteiro turístico.

O que causava tanto embaraço na definição do sexo dos namorados, nem era a dificuldade de lhes distinguir as feições devido à distancia a que estavam de nós, mas ao facto de tal cena se passar no meio de um amplo relvado (gramado, br) em plena Praça da República; um dos pontos nobres e turísticos por excelência, da cidade de Recife. Isto num pais, o Brasil, onde os crimes de homofobia são uma prática quotidiana, com estatísticas e números de ocorrências assustadores, senão mesmo apavorantes. Em 2011, segundo dados do governo central, foram registados 6800 casos de violações dos direitos de integridade física e 278 mortes por homofobia. Só nos primeiros 6 meses de 2012 foram assassinados 165 homossexuais (de ambos os sexos). Muitos dos casos de agressão e homicídio são perpetrados por membros da própria família da vítima.

Finda a agradável tarde de passeio pela cidade o nosso transporte voltou a circular pela mesma praça e lá estavam os dois jovens dobrando as cobertas onde haviam repousado e arrumando a trouxa de pic-nic. Então, em pé e se movimentando, deu bem para ver claramente que se tratava dum casal de rapazes. Os seus olhos continuavam se cruzando com carinhosa cumplicidade e seus lábios tocavam-se em leves beijos.

O espanto e a curiosidade foi geral, entre o nosso grande grupo de veraneantes. Entre nós os três, o acordo foi firmado com tranquilidade e até alguma satisfação, pela digna e tranquila coragem com que os jovens em causa assumiam o seu amor.


Nota: Pernambuco é um dos estados brasileiros onde a união estável entre pessoas do mesmo sexo é reconhecida e registada oficialmente. Assim também Recife é um município que promove campanhas anti-homofobia, tentando se mostrar como uma cidade gay-friendly. Contudo uma  coisa é a lei e a vontade política da nação, outra é a mentalidade popular e a livre propaganda criminosa de facções religiosas odientas e fanáticas.

3 comentários:

Serginho Tavares disse...

pois é... eu achei uma cena linda de se ver e que mais cenas assim aconteçam!

beijos meu amor

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Parabéns a Pernambuco e em particular ao Recife ... q se fodam os boçais q insistem em nadar contra a corrente ...

bjão

São disse...

Mas já é muito bom que, legalmente, as coisas sejam aceites!


Beijinhos