"Peter Gabriel saiu dos Genesis e toda gente se pôs de pé!" era título na imprensa da época, aquando da saída de Peter Gabriel dos Genesis, como se para compensar a sua saída fosse necessário um esforço suplementar dos restantes membros do agrupamento musical. Como se com ele tivesse ido a alma e o espírito criativo dos Genesis.
Também a mim me foi difícil aceitar , na altura, a saída do carismático vocalista, pois isso prenunciava o final das extravagantes apresentações teatralizadas dos espectáculos da banda. Havendo mesmo muitos agoirentos fã(nático)s incondicionais que viam nesse abandono o fim do projecto musical e o desaparecimento da banda no seu apogeu.
"A qualidade musical vai diminuir!", "A mística acabou!" eram lamentos recorrentes entre os velhos-do-Restelo. Mas não foi tanto assim!
O que terminou foi apenas a teatralização mascarada dos temas musicais nas apresentações ao vivo. A qualidade e mística das músicas e temáticas permaneceu ainda, por mais algum tempo.
A verdade é que o génio criativo dos Genesis residia naquela figura apagada, sentada no canto esquerdo do palco (visto da perspectiva do público), tocando as suas guitarras com uma discreta postura, quase como se a sua presença fosse perfeitamente descartável.
Era ele Steve Hackett. Aquele de que apenas se falava referindo-o como o guitarrista sentado lá ao canto.
Na verdade foi Steve Hackett que impôs à banda o modelo de apresentação cénica dos espectáculos ao vivo, aproveitando a bipolaridade de Peter Gabriel (P. G. sofre de Doença Bipolar) que lhe proporcionava uma plasticidade necessária para encarnar as várias personagens e narrativas dos temas musicais.
Quando a banda convidou Steve Hackett para guitarrista ele impôs como condição refazer toda a postura em palco da banda e o modo como os espectáculos deveriam ser montados e encenados.
Foi do génio criativo de Steve Hackett que nasceu o formato de espectáculo de rock cénico que tornou os Genesis famosos e serviu de modelo para muitos outros músicos e bandas, que neles se inspiraram para idealizar os seus espectáculos.
E para sossegar os fãs e a crítica, logo saiu o álbum "A Trick of the Tail", que para espanto de todos mantinha tudo aquilo que definia a sonoridade tão peculiar dos Genesis. Até a voz de Phil Collins encaixava perfeitamente no som, tal como antes acontecera com a voz de Peter Gabreil.
Afinal os Genesis tinham vida para além de Peter Gabriel!
Sim, tinham e tiveram por muito mais tempo e com muito sucesso também. E a mística musical e temática permanecia lá! Um olhar do mundo com algum surrealismo, alguma ironia e muito de onírico e devaneio. Pois, a mística permanecia, porque o obreiro dela tinha um nome: Steve Hackett.
Sorry, Peter Gabriel! But that's the truth!
Depois de dois álbuns gravados após a saída de Peter Gabriel, a banda (e a editora) entendeu que deveria acompanhar as mudanças dos gostos da época e de novas gerações de fãs e então Steve Hackett reconheceu que era o momento de sair, pois aquele não seria mais o seu projecto. Chegara o momento dos discos por encomenda para vendas maciças a engordarem as contas bancárias das editoras e demais tubarões empresariais.
Mas o génio ficou! Contudo não na banda, que enveredou por caminhos ínvios e incaracterísticos, com algumas tentativas trôpegas de imitar o clima dos velhos tempos, mas que não passavam de infrutíferos arremedos grosseiros. O génio místico dos Genesis viveu fora deles, nos álbuns a solo de Steve Hackett e na sua carreira musical, desde o seu abandono do projecto Genesis. Viveu e livre das restrições relacionais complexas duma banda de rock, desenvolveu todo o seu potencial criativo, registado em inúmeros trabalhos, para felicidade de quem se propuser a apreciá-los sem preconceitos e pré-juízos.
Para os que o queiram confirmar faço duas sugestões, começando pelo seu segundo álbum "Please Don't Touch", tão rico em ambientes que nos levam de enlevo em enlevo, como se vagueássemos numa mágica feira de fantasias. E depois o show gravado no Japão "The Tokyo Tapes" e editado em DVD, onde Hackett conta com a cumplicidade de outros músicos de bandas como King Crimson, Asia, Weather Report e outras.
Mas estes são apenas dois exemplos da vasta discografia de Steve Hackett, distribuída por várias áreas da composição e interpretação musical.
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