Recebi um email com um texto da autoria do meu amigo Francisco Lucas. Pela qualidade do mesmo pedi-lhe autorização para o divulgar, ao que ele acedeu. E aqui o estou fazendo.
O papel que tornou famoso Peter Graves foi o de Jim Phelps na inesquecível série de televisão "Missão: Impossível". Este personagem era o líder de uma equipa de espiões que levava a cabo missões dificílimas, as quais só tinham sucesso graças a um planeamento extremamente ousado e elaborado e aos inúmeros recursos e talentos dos seus elementos.
Jim Phelps era aquele a quem eram atribuídas superiormente as missões, tendo ele depois a liberdade de escolher os agentes que melhor se enquadravam nos planos geniais que arquitectava para concretizar o objectivo. Em plena Guerra Fria, esta combinação fantástica de espionagem, suspense e um pouco de ficção científica (servida por argumentos de grande criatividade), aliada ao charme e carisma dos actores (sobretudo o par Martin Landau e Barbara Bain, mais tarde protagonistas do "Espaço: 1999"), tornou a série num dos melhores produtos televisivos de sempre, única no seu género e absolutamente inimitável.
Infelizmente, quando "Missão: Impossível" passou ao cinema, era necessário que a vedeta (e produtor) Tom Cruise pudesse brilhar. Assim, logo no primeiro filme, a sua personagem (equivalente à de Martin Landau nos anos 60) torna-se o herói, enquanto que, numa reviravolta surpreendente, o incorruptível Jim Phelps (no filme interpretado pelo pai de Angelina Jolie, Jon Voight) se revela um traidor sem escrúpulos!
Deste modo - e não negando o valor dos três filmes da série como boas fitas de acção -, perverteu-se o espírito da série original, tornando-se a "Missão: Impossível", para as gerações mais novas, nas aventuras do agente Ethan Hunt, que, embora também convocando os seus colaboradores para as missões, tem sempre o foco das atenções a incidir sobre si (ou não fosse o actor quem é).
Esperemos que haja muitos reruns da série nas televisões de todo o mundo, matando a saudade dos mais velhos e cativando os mais jovens para um grande programa de televisão, inteligente e elegante, sem excessos a nenhum nível, ao qual apetece sempre voltar, o que é bem raro nos nossos dias.
Não quero com isto negar que não estejamos a viver uma época em que há muitas e boas séries de televisão; mas quantas delas se tornarão clássicos? De quais nos lembraremos daqui a uns 5 ou 10 anos? Depois de vermos a conclusão de "Lost", apetecer-nos-á voltar a ver essa série? Teremos alguma vez vontade de comprar os DVDs de "Eureka", "Lie to Me" ou "Burn Notice"?
Foi sempre assim em televisão e cinema, tal como na comida: há o fast food, que nos sabe bem quando estamos a comer, mas depois de fazermos a digestão já esquecemos o que foi o almoço; e há aqueles momentos de puro prazer gastronómico que não esquecemos e gostaríamos de repetir logo que possível.
Os filmes com Tom Cruise têm o seu interesse, serão um pouco mais que fast food, mas não chegam aos calcanhares da haute cuisine que é a série que, embora imbuída do zeitgeist daqueles anos tão especiais (em que o mundo, como a televisão, era a preto e branco e não em incontáveis tons de cinzento como o do tempo presente), se tornou um clássico e ficará para sempre na memória de muitos de nós. O Jim Phelps de que me quero lembrar não é o assassino corrupto do filme de Brian de Palma, é o líder impoluto e de grande estatura moral da série de televisão, interpretado com o talento contido e discreto e a desenvoltura elegante de Peter Graves.
À sua memória, com saudade.
Francisco Lucas
3 comentários:
uma triste perda!
a TV é efêmera e basta acabar algo pra recomeçar outra coisa e por ai vai...
clássico se torna apenas para os fãs
Peter Graves ficou maior que qualquer outra coisa.
e sempre será lembrado.
te amo meu amor
MUITO
A série está a dar na RTP Memória. Abraço.
Só com a sua morte, soube que ainda estava vivo...pois lhe perdera o rasto.
Que esteja em paz!
Um abraço para ti.
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