Carros enfileirados ao longo da
rua. Jazendo ao sol implacável do meio-dia. Abrasador, abatia-se sobre tudo e
empurrava calor para as sombras, que pediam uma trégua na brisa suave.
Numa esquina do cruzamento ele protegia-se
sob uma árvore. Sentado no lancil do passeio tagarelava com um amigo, que
ocasionalmente passara e se demorava na companhia prazenteira. Conversa de
cafuçu, com muito espalhafato de aparato cénico gestual, gírias codificadas e
temáticas abstrusas com sentidos duvidosos e destituídas de construtividade
humana.
O cartão pardo, como a pele
dele, ia clareando com o sol, mas ele ia ficando mais moreno. Os músculos
reluzindo, como desafiando o flagelador diurno. Jactante. Petulante. Mas sem
deixar de assumir uma humildade submissa, na simpatia com que recebia as parcas
moedas de gorjeta, razão pela qual ali estava.
Corpo moreno, musculoso, tisnado
do sol, escapava das vestes rudimentares e humildes. Cabelo em crista e
sarapintado de madeixas artificiais, escondido sob o boné paramental. Rosto
marcado pela dureza de viver nas ruas e morar numa favela apinhada de criaturas
semelhantes a humanos. Os chinelos de borracha livravam os pés do asfalto
ardente.
5 comentários:
De um jeito ou de outro, vão ganhando o pão de cada dia...
Esse é meu número. Gamei... rs
OMG! como eu queria isto hoje ... rs
Voltando meu querido e assim retomando a vida ... bjão
Uma tristeza...
Te abraço com saudades, Irmão
Seus textos são confeccionados com uma delicadeza tão grande. Um apuro. Meus sinceros parabéns. Vai uma pitada de inveja e uma dose generosa de admiração. Abração!
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