Praça Oswaldo Cruz, Recife
Sete colunas, que nada
sustentam, no meio da praça ajardinada. Ao alto um céu azul, entre grossas
nuvens de chuva dispersas. A tarde é quente e húmida. Desconfortável. Em bancos
de jardim, arrumados com simetria ao redor, figuras torpes encenam gestos
viciados dum quotidiano urbano estafado de mesmice. O casal que namora num, o
andarilho deitado em sono profundo noutro, os colegas que se juntam, para um
bate-papo no intervalo do trabalho, noutro mais além. Eu que observo tudo com o
distanciamento de quem não pertence ali. Nem a parte nenhuma.
Pombos chegam e imediatamente
começam a bicar na areia moldada por pegadas que levaram por rumos diversos a
diferentes destinos. Transeuntes passam perto. Alguns nem dão pelas aves,
seguindo absortos no emaranhado das suas vidas sem intento, decalcadas dos
paradigmas de consumo duma civilização sem propósitos de glória. Vão cegos à
verdade no entorno e invisíveis no seu decalque de tantos outros milhares,
milhões que se assemelham e alastram num mundo adormecido no pesadelo:
presente.
Um abismo abre-se, imenso, a
meus pés. Um fosso sem fundo, dum negro inexpugnável. Do breu sobe um frio
gélido, paralisante. Dói o pensamento e a alma congela. Elevam-se rumores de
dor e mágoa. O mundo range de injustiça e sofrimento. Glórias passadas
arrastam-se na praia duma nova esperança. Um novo desbravar florestas que
escondam templos esquecidos. Mitos. Lendas. Uma salvação que tarda.
3 comentários:
Absorto: palavra do dia. Translate, please... rs
Olá, queridão. Qual a origem e propósito dessas colunas, vc sabe? Elas te levaram pra bem longe, hein? Como os rumos diversos das pegadas dos transeuntes.
Bjaum.
Eu acho ótimo que estejas aproveitando bem este momento e vendo coisas cotidianas, rotineiras, que nos olhos de tanta gente passam despercebidas, mas você com um olhar tão poético nos dá esta beleza de texto!
Beijos
Amo te
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