Esperei o fim da tarde e a
trégua do flagelo solar. Estava farto de ficar em casa olhando o vazio imenso
da tela do computador e das redes sociais. Saí e a noite iniciava-se calma e
tranquilizadora. Com a música marcando o ritmo dos meus passos, lá segui de
auscultadores nos ouvidos e apoiado na minha inseparável bengala.
Corpos reluzentes de músculo e
esforço circulavam em corrida, pelo trajecto sinalizado ao redor da lagoa. O
suor emprestava brilho às tezes morenas e viris daqueles que se expunham semi-nus
(vestindo apenas calção, os praticantes mais esforçados e esbeltos) ao olhar
deliciado e devorador, dos que sabem apreciar a beleza do corpo masculino.
No parquinho infantil crianças
gargalhavam nos engenhos de diversão, sob o olhar avisado dos pais e mães que
se juntavam em pequenos grupos comentando as habituais banalidades de ocasião.
Nos quiosques-bar convivas confraternizavam indiferentes à verborreia
omnipresente dos infalíveis televisores. Idosos, de ambos os sexos, também
improvisavam o seu treino de manutenção da longevidade saudável, caminhando em
duos ou trios, envergando com orgulho as suas roupas desportivas e calçado
apropriado. Toda a gente queria se sentir bem com a vida, tranquilo e animado.
Num recanto sossegado, mas de
passagem obrigatória, bem visível e acessível para todos, estava uma mesa de
esplanada, com duas cadeiras. Numa das cadeiras uma mulher jovem, envergando
uma bata branca, dialogava animadamente com um grupo que se tinha reunido em
volta. Sobre a mesa percebi instrumentos médicos de auscultação e medição de
pressão arterial.
Sorri feliz por saber que há
gente que se lembra de cuidar dos outros, mesmo no seu tempo de laser. Sem se
importar de prolongar um pouco mais o seu dia de trabalho, mesmo que seja em
regime voluntário e sem remuneração.
3 comentários:
Bela crônica de uma vida urbana! Que bom q ainda temos estes altruístas né?
Coisa rara. E que bom que saiu pra pegar um ar fresco...
Ainda existem pessoas que lembram que Medicina é sacerdócio!
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