Pegando numa ideia que apanhei lendo um texto do Alexandre Mauj...
Íamos no RER (Réseau Express Régional, uma rede ferroviária que liga o centro de Paris aos seus arredores, servindo com rapidez e comodidade toda a região metropolitana da capital francesa, link) eu (português) e o meu amigo Rachid (marroquino). Era quase final da tarde e hora de ponta, pelo que o comboio seguia cheio. Perto de nós seguia um grupo de imigrantes portugueses, que se destacavam do resto dos passageiros por falarem alto demais, aos gritos, rindo debochadamente das baboseiras que diziam.
O meu amigo ao fim dum bocado prestando atenção no linguajar deles (que ele não entendia o sentido, pois não sabia falar português) virou-se para mim e disse-me:
- São portugueses como tu! Eu posso perceber que a língua é a mesma. Que estão eles dizendo que se divertem tanto?
- Por favor não digas que eu sou português aqui, pois tenho vergonha de ser comparado que aquela gentalha. E não me perguntes o que eles estão a falar pois não o vou dizer aqui. Em casa falaremos. Dans ce moment la j’ai honte d’êtres portugais! - respondi eu.
Obviamente que o diálogo entre nós era em francês, a língua que falávamos em comum, já que nenhum de nós falava a língua materna do outro. Mas pelo meu cuidado em resguardar a minha identidade e pelo ar de deboche dos jovens em questão o Rachid percebeu que a coisa era reles e grosseira. Pelo que se remeteu a um silêncio chocado. As expressões dos restantes passageiros era de resignação, de quem já se habituou a presenciar tais costumeiras demonstrações de alarvidade, pois mesmo sem entender patavina da língua, pelas atitudes dava para perceber que a temática era depravada.
Em casa expliquei-lhe que o que aqueles trogloditas faziam era debochar obscenamente das jovens e demais mulheres que circulavam na mesma carruagem que nós, escondidos no anonimato da diferença linguística, berrando com todos os pormenores descritivos e usando os mais grosseiros palavrões, o que fariam sexualmente com cada uma delas.
O caso que relato aqui não é único, nem exclusivo aos emigrantes portugueses, mas comum a todos os emigrantes em países que falam outra língua e onde demonstram a sua xenofobia através do escudo cobarde da língua, debochando dos seus anfitriões. É uma atitude cobarde de quem arrasta consigo a sua má formação e má educação para onde quer que vá.
Como disse acima, a ideia para este meu artigo veio dum relato que o nosso amigo Alexandre do Lost in Japan (link) apresentou no seu post “As lágrimas dos Diferentes – Autismo e Preconceito” (link). É com atitudes lamentáveis dos seus representantes mais reles e indignos que os povos e nações ganham estigmas que apenas servem para alimentar a arrogância e rejeição dos xenófobos.
Gente inculta e mal educada é mau exemplo em qualquer parte.
6 comentários:
Infelizmente, também tenho assistido a cenas assim.
As criaturas , que me envergonham de as ter como compatriotas, nem sequer t~em noção de que representam o país!
Um abraço com beijinhos.
Pois é meu amor. Educação é algo que vem de berço mesmo!
Ou se tem. Ou não se tem!
E quando andam em bando então, é pra passar bem longe!
Beijos
Desatinados, os pombos regressaram.
Beijinhos.
Além de preconceituosos, são também covardes.Vou te contar amigo, tenho vergonha de muito brasileiro que passeia por aqui.O que eu ouço de gente falando em português das vestimentas mulçumanas...Ai... E não é uma crítica construtiva, mas insulto baixo mesmo,puro preconceito.
É pena entender o que esses trogloditas falam. Não gasto um pingo de energia discutindo com gente baixa, o mínimo que faço é lançar um olhar bem sério...Às vezes funciona.
Pois é. Eu também já tive várias vezes por essa Europa fora, vergonha de ser Portuguesa...
Mas quem se comporta assim no exterior, faz o mesmo no seu país de origem.
BEIJOS
ManDrag, vc está certíssimo! Imagina para nós brasileiras então? Quanta vergonha passamos em outros países por causa das brasileiras que veem para europa para trabalharem de "dançarinas" etc etc e só fazem e denegrir a imagem da mulher brasileira como mulher fácil e que anda semi-nua. Muitos homens se aproximam das brasileiras decentes na europa já com essa idéia fixa, de que tipo de mulher estão procurando, e as mulheres de bem é quem pagam o pato pelas outras que nos denigrem a imagem! Desculpa o desabafo, acho que fuji um pouquinho do tema,mas creio que está correlacionado. Um grande abraço.
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