“É a solidão... a mais profunda solidão... Não haver ninguém, uma alminha neste mundo que queira saber de nós... isto é absolutamente chocante. Até na morte ninguém lhe ligou nenhuma. "Desapareceu" e pronto... mas estava ali, morta. Era só arrombar a porcaria da porta! E há o pormenor macabro do cão que morreu ali, lentamente, de fome e sede... Chiça!” Rui, da Amadora in Público
Não é solidão, é desprezo, é insensibilidade, é desumanização da nossa vivência urbana.
Augusta esteve morta no chão da sua cozinha durante oito anos, até a casa ter sido leiloada pelas finanças, devido à falta de pagamento de dívidas. Junto com ela foi encontrado o seu cão, morto de inanição.
Infelizmente, embora chocante este caso de morte no abandono, não é único e revela com estúpida brutalidade o desmazelo dum Estado que apenas se preocupa com a colheita dos seus impostos; o conformismo dos funcionários das instituições de segurança que se demitem das suas responsabilidades atrás duma burocracia sempre criminosa (os vizinhos, estranhando a ausência da senhora, apelaram para a polícia arrombar a porta, mas esta escusou-se por não possuir um mandato judicial para o fazer); a desumanidade burocrática das instituições de previdência e segurança social, cuja gestão se preocupa mais com estatísticas e regulamentos que com pessoas.
Os vizinhos testemunham que ao longo de um ano a luz da cozinha de Augusta se manteve acesa. Qual alarme surdo perante a indiferença do tal Estado Democrático de Direito escudado na sua sacrossanta burocracia.
Morremos atafulhados na burocracia que nos ensina a insensibilidade da frieza perante o fado alheio.
Ocorre-me que somos um povo que desbravámos um planeta para morrermos sozinhos em casa.
É desta indiferença que fujo!
8 comentários:
Não somos pessoas, somos números.
E o cheiro de corpos em decomposição? e o ladrar do animal?
Mas segundo já foi dito, neste caso, a senhora não se relacionava com ninguém por vontade própria.
Só que o Estado deveria ter aberto a porta, o mesmo que depois lhe vendeu a casa sem problemas nenhuns.
Abralçs
Pelo menos aqui no Brasil o povo é tão curioso e metido que no primeiro dia que ela não tivesse dado sinal de vida, ou o cachorro estivesse a latir, já teriam arrombado a porta!
Como diz aquela música (e sem querer fazer piada do ocorrido, é claro "...é essa sua indiferença que me mata..."
Beijos amor
Amigo ManDrag!
Tomei conhecimento deste fato macabro pelo blog de uma amiga portuguesa e fiquei muito chocada também.
Não consigo entender como alguém que mora num prédio possa ser assim esquecida. Pelo menos entendi que ela morava num prédio, coisa pior ainda.
Realmente estamos num mundo desumano, onde somos apenas números e com governos que não dão assistência aos seus cidadãos contribuintes. Uma tristeza!
abraço carioca
Lembro de um filme, acho que com o Tom Cruise em que os protagonistas, discutiam sobre um cara que morreu no metrô e o metrô deu muitas voltas até alguém perceber que ele estava morto.
Que coisa, né?!
Amigo ManDrag,
Estou voltando aos poucos, pois a tendinites não me deixa escrever quase.. Enfim estava com saudades aqui do Confessium e me deparo com esse triste post.. que tristeza tudo isso que aconteceu com essa senhora que, pelo que entendi era portuguesa. Concordo sim que a culpa maior é a do Estado que não quis intervir, mas ao mesmo tempo as pessoas estão tão egoístas e medrosas hoje em dia que, a meu ver, se os vizinhos realmente se importassem em saber a respeito da vizinha, como bem disse o Serginho, teriam metido o pé nessa porta e pronto! Não iriam esperar 8 anos!!! pela polícia. A falha também é da sociedade e o que reflete no tipo de governo que possuem. Grande abraço.
Oh,meu Deus :( Que horror, meu amigo!Vc pegou no ponto certo, esta indiferença e frieza da vida moderna é que "mata". E também me assusta muito. Que lógica é essa, a de viver em comunidade,em sociedade,mas aprofundados na nossa única e solitária individualidade?
Que coisa eim?
mas enfim ...
;-)
Esse é o mundo de indiferença e egoísmo em que vivemos meu amigo, triste....beijos,
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