sábado, 16 de abril de 2011

DOR

A dor... que seja dor tamanha, que redima meus paraísos em sofrimento e êxtases! Ámen!

A dor sempre fascinou a alma humana. Encanta e atrai, como qualquer outro desejo proibido pelas puritanas mentes dogmáticas, que perversamente se alimentam do mal-estar alheio, mais que do próprio, fazendo da amargura que semeiam nas existências vizinhas um prado viçoso para a sua luxúria perversa. Graças a Deus!

A guerra, a fome, a miséria... o fascínio da esquálida condição de submissos dum penar sem fim, sem trégua, sem redenção. Graças a Deus!

As dores nem menores, nem maiores, as dores que conduzem o condenado ao cadafalso, na promessa duma libertação pungente no máximo tormento: o martírio. Porque todo o condenado é um mártir; porque todo o condenado é um santo. Graças a Deus!

O deleite da dor, que devassa e viola todos os recantos secretos duma alma fugidia, mas exposta; todas o são. A lascívia da tortura, no romantismo perverso daqueles que se engodam de si, por uma causa demente e beata duma libido criminosa, na exposição vulnerável. Graças a Deus!

Por amor... com muito amor...



De Adélia Prado, “Bendito”

"Louvado sejas Deus meu Senhor,

porque o meu coração está cortado à lâmina,

mas sorrio no espelho ao que,

à revelia de tudo, se promete.

Porque sou desgraçado

como um homem tangido para a forca,

mas me lembro de uma noite na roça,

o luar nos legumes e um grilo,

minha sombra na parede.

Louvado sejas, porque eu quero pecar

contra o afinal sítio aprazível dos mortos,

violar as tumbas com o arranhão das unhas,

mas vejo Tua cabeça pendida

e escuto o galo cantar

três vezes em meu socorro.

Louvado sejas porque a vida é horrível,

porque mais é o tempo que eu passo recolhendo despojos,

– velho ao fim da guerra como uma cabra –

mas limpo os olhos e o muco do meu nariz,

por um canteiro de grama.

Louvados sejas porque eu quero morrer,

mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.

Uma vez, quando eu era menino, abri a porta de noite,

a horta estava branca de luar

e acreditei sem nenhum sofrimento.

Louvado sejas!"


Notas: A foto retirei do blog do Diogo Didier "Ser Feliz É Ser Livre" e o poema do blog "Ser e Conhecer"

8 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Duas pérolas tanto a ilustração qto o poema ... extasiei-me aqui ...

bjão

São disse...

A dor é o caminho, só através dela conhecemos os raros e diminutos momentos felizes que nos cabem em sorte.

Um abraço cheiinho de saudades.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Parabéns por este excelente post.
Bj.
Irene

lolipop disse...

O poema é lindissimo!
A dor faz-se menor quando partilhada...como dizia Garcia Marquez...a solidão é o contrário da solidariedade,

Abraços carinhosos

Unknown disse...

Às vezes essa dor invade a minha alma e mostra a minha fragilidade.
Bj.s

Serginho Tavares disse...

Dor e amor parece que nasceram juntos
Beijos

Wanderley Elian Lima disse...

Aplausos, aplausos, aplausos. Amei.
Bjão

Lobo disse...

Eu sempre digo que a dor é a melhor forma de ensinar algo... não há ninguém que não aprende uma lição depois de uma boa dose de dor e sofrimento...

Beijo Mandrag!