A dor... que seja dor tamanha, que redima meus paraísos em sofrimento e êxtases! Ámen!
A dor sempre fascinou a alma humana. Encanta e atrai, como qualquer outro desejo proibido pelas puritanas mentes dogmáticas, que perversamente se alimentam do mal-estar alheio, mais que do próprio, fazendo da amargura que semeiam nas existências vizinhas um prado viçoso para a sua luxúria perversa. Graças a Deus!
A guerra, a fome, a miséria... o fascínio da esquálida condição de submissos dum penar sem fim, sem trégua, sem redenção. Graças a Deus!
As dores nem menores, nem maiores, as dores que conduzem o condenado ao cadafalso, na promessa duma libertação pungente no máximo tormento: o martírio. Porque todo o condenado é um mártir; porque todo o condenado é um santo. Graças a Deus!
O deleite da dor, que devassa e viola todos os recantos secretos duma alma fugidia, mas exposta; todas o são. A lascívia da tortura, no romantismo perverso daqueles que se engodam de si, por uma causa demente e beata duma libido criminosa, na exposição vulnerável. Graças a Deus!
Por amor... com muito amor...
✠
De Adélia Prado, “Bendito”
"Louvado sejas Deus meu Senhor,
porque o meu coração está cortado à lâmina,
mas sorrio no espelho ao que,
à revelia de tudo, se promete.
Porque sou desgraçado
como um homem tangido para a forca,
mas me lembro de uma noite na roça,
o luar nos legumes e um grilo,
minha sombra na parede.
Louvado sejas, porque eu quero pecar
contra o afinal sítio aprazível dos mortos,
violar as tumbas com o arranhão das unhas,
mas vejo Tua cabeça pendida
e escuto o galo cantar
três vezes em meu socorro.
Louvado sejas porque a vida é horrível,
porque mais é o tempo que eu passo recolhendo despojos,
– velho ao fim da guerra como uma cabra –
mas limpo os olhos e o muco do meu nariz,
por um canteiro de grama.
Louvados sejas porque eu quero morrer,
mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.
Uma vez, quando eu era menino, abri a porta de noite,
a horta estava branca de luar
e acreditei sem nenhum sofrimento.
Louvado sejas!"
Notas: A foto retirei do blog do Diogo Didier "Ser Feliz É Ser Livre" e o poema do blog "Ser e Conhecer"
8 comentários:
Duas pérolas tanto a ilustração qto o poema ... extasiei-me aqui ...
bjão
A dor é o caminho, só através dela conhecemos os raros e diminutos momentos felizes que nos cabem em sorte.
Um abraço cheiinho de saudades.
Parabéns por este excelente post.
Bj.
Irene
O poema é lindissimo!
A dor faz-se menor quando partilhada...como dizia Garcia Marquez...a solidão é o contrário da solidariedade,
Abraços carinhosos
Às vezes essa dor invade a minha alma e mostra a minha fragilidade.
Bj.s
Dor e amor parece que nasceram juntos
Beijos
Aplausos, aplausos, aplausos. Amei.
Bjão
Eu sempre digo que a dor é a melhor forma de ensinar algo... não há ninguém que não aprende uma lição depois de uma boa dose de dor e sofrimento...
Beijo Mandrag!
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