sábado, 5 de fevereiro de 2011

REVOLUÇÃO XXI

Mudam-se os tempos, mudam-se os modos. Este processo revolucionário egípcio tem apresentado muitas pistas para reflexão. Uma delas é a utilização das novas tecnologias de informação e o conhecimento de como a imagem pode ser fundamental. Tanto a imagem fotográfica, quanto a imagem comportamental.

Os manifestantes anti-regime, tentam manter a sua sublevação num perfil de protesto ordeiro. O seu esforço em manter as manifestações dentro dos padrões de civilidade que a opinião pública internacional espera e aprecia, tem sido evidente. A sua capacidade de apelo e direcção das multidões tem sido notória, demonstrando uma lição muito bem aprendida com vários exemplos do passado. Saber condenar os comportamentos dos tiranos, sem deixar rasto de comportamentos condenáveis.

A exibição de cartazes numa língua internacional (inglês) mostra o quão conscientes estão de que a opinião e solidariedade global poderão fazer a diferença para o sucesso da sua iniciativa. Dando uma imagem de habilitados a uma democracia lavadinha podem angariar a simpatia e apoio de governantes estrangeiros e diplomatas que farão o seu papel de pressionadores, fiscalizados pelas suas respectivas opiniões públicas nacionais.

Mas também muito do que se tem visto é possível devido ao profundo espírito comunitário que anima esses povos, em contraste com o perfil individualista e egocêntrico da nossa cultura ocidental. À muito que perdemos o sentido comunitário e vivemos numa obsessão de auto-satisfação. Talvez resida aí a completa apatia das populações europeias perante os processos eleitorais, que se testemunha em elevadíssimas taxas de abstenção. Quem vemos nós mais frequentemente nos movimentos populares de contestação na Europa? Emigrantes vindos do norte de África. Os europeus e outros povos ocidentalizados, acomodados nos seus ideais de classe média desencantada ficam nas suas poltronas frente ao televisor assistindo com enfado, enquanto esperam mais um talk-show mundano, um desafio futebolístico, ou essas infindáveis telenovelas anestesiadoras e viciantes. Não é desinteresse, é uma apatia dormente e patológica.

3 comentários:

Beth/Lilás disse...

É verdade, amigo ManDrag!
NOssa realidade tem sido de perplexidade e ao mesmo tempo anestesia diante das coisas.
Minha única esperança atualmente é a Net, inclusive acabo de postar sobre este grande movimento que o Avaaz tem feito e ajuda em muito, mas não vejo a hora do povo ir às ruas também e se manifestarem com coragem como estes egípcios.
um grande abraço carioca

Serginho Tavares disse...

Gostaria que aqui no Brasil houvesse um levante deste tipo, mas o povo está, como bem disseste, em suas poltronas!

Beijos meu amor, mais um excelente texto!

LusoBoy disse...

Um cartaz muito bem pensado.