quinta-feira, 4 de novembro de 2010

GARDEN ROSE

Perdido na cidade... neurótica, anacrónica. Atafulhado de ansiedades paranóicas dum viver labiríntico que não leva a parte nenhuma, eu sou um produto urbano duma modernidade construída de ilusões vãs, desconstrutoras do ser humano que deveria germinar em cada um. Sou o resto (ZERO) dum sistema exploratório esclavagista branqueado em consumismo carrasco.

Na claustrofobia da cidade dos homens eu busco os moinhos que os ventos já desprezaram, os coretos onde mais nenhuma nota musical restou, os lares vazios de entes e afagos. Os sorrisos são esgares vesgos reflectidos em espelhos baços que mostram mais sombras que formas.

Mesmo assim eu continuo, jardineiro persistindo no encantamento torpe dum acreditar pueril que a harmonia ainda é possível.

A fantasia dum jardim florido, onde das rosas apenas restam os espinhos.

A visão turva das coisas que estão lá mas não queremos ver.


Nota: Este texto é a minha participação para o desafio de blogagem colectiva “Minha Ideia é meu Pincel” lançado pela amiga Glorinha L de Lion do Café com Bolo, inspirado no quadro “The Rose Garden” e Paul Klee.

18 comentários:

Beth/Lilás disse...

Amigo ManDrag!
Você é mais um que tem se revelado nesta Blogagem como um ótimo escritor e o mais interessante é que mostra seus pensamentos com poética e muito bem feita.
Parabéns!
bjs cariocas

Unknown disse...

Olá ManDrag

Sempre gostei dos teus escritos e neste superaste a referência ao quadro. As cores e a intensidade das palavras estão ao nível do visual do quadro.

Adorei esta tua postagem.

Grande abraço

António

Glorinha L de Lion disse...

Amigo Man Drag, essa busca constante pelo que ninguém mais vê é o mal ( e o bem )dos poetas e escritores...grande escrita meu amigo! Beijos,

pensandoemfamilia disse...

Olá
Participando desta coletiva, vim ler o seu post e gostei do que vi. Sua percepção não foge muito a minha.
Abços

Serginho Tavares disse...

É impressionante como você consegue reconstruir o que foi pintado em palavras e que nos remetem tão bem a imagem. Sem dúvida é o melhor de todos!
Amo te

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Belelérrimo isto ... uma aquarela de palavras ...

bjux

;-)

Cristina Paulo disse...

ManDrag, fiquei presa no ritmo das cores e na musica das palavras...arrebatador este texto! Conseguimos ver nele o quadro, e após o ter lido, é impossível olhar o quadro sem ver o que escreveste...o visível e o não tão visível! Bravo :)
Namasté

Socorro Melo disse...

Olá, Mandrag!

Excelente!

"Eu sou um produto urbano, de uma modernidade construída de ilusões vãs, desconstrutora do ser humano"

Filosófico.

Paz e Luz!
Socorro Melo

Beth/Lilás disse...

Voltei, amigo!
Então pincelastes com mais cores este teu bonito texto?
Gostei mais ainda.
bjs cariocas

Luma Rosa disse...

Estava aqui pensando com os meus botões que talvez foram estes os pensamentos de Paul Klee ao pintar essa tela. Ele foi uma criança oprimida e seu pai morreu sem ver o sucesso que o filho alcançou. Contrariando toda a família, ele não quis seguir as cordas musicais, preferindo os pincéis. Talvez por isso também preferia lecionar arte para as crianças do que para adulto - algo como as crianças ainda não estarem contaminadas! Boa blogagem! Beijus,

Lu Souza Brito disse...

Impressionante seu terxto. Jogo de imagens, palavras, uma aquarela. Adorei!

Malu Machado disse...

Muito prazer, Man Drag,

Participando da coletiva vim te fazer visita. Gostei das cores, do ritmo e da visão de uma metrópole conturbada com seus espelhos que nem sempre refletem a verdade.

Bela participação.

Bjs,

São disse...

Olha que colorido, rss

Meu querido, passa pelo "são"

Beijos

Marisol disse...

Pois...confesso que o texto só por si vale uma longa dissertação sobre o delírio moderno do homem urbano, desapegado das coisas concretas que durante milhares de anos lhe permitiram a sobrevivência: o trabalho da terra ou a transformação da matéria por exemplo. Por isso parecemos por vezes tão inseguros, tão meditativos, tão insatisfeitos e queremos ser ouvidos, queremos ser vistos queremos ser estrelas e nem um céu conseguimos criar para brilhar.
O texto somos nós mas um pouco menos cinzento que o nosso espírito por isso ele incomoda um pouco. Abraço amigo.

Michael disse...

Meu grande Amigo,

Gostei muito da idéia de colorires o teu texto com as cores do quadro. O teu bom gosto plástico é inquestionável, assim como o teu talento para a pintura; mas aqui as palavras é que foram as tuas tintas e do que eu gostei mais foi do texto em si. Uma bela prosa poética, tão certeira quanto bem escrita!

Um grande abraço!

Anónimo disse...

Menino! O trabalho que deve ter dado colorir essas letras! Que paciência!

Gostei da esperança embutida no texto, da visão certeira e realista, do perfume das flores.
Parabéns!
Abração.

Hürrem disse...

"eu sou um produto urbano duma modernidade construída de ilusões vãs, desconstrutoras do ser humano que deveria germinar em cada um"... Amigo ManDrag, essa sua frase,de uma profundidade filosofica,porem real, expressa bem como somos nos os ditos seres humanos...Obrigada por escrever coisas tao lindas e contribuir com nossa sociedade tao carente de reflexoes verdadeiras.
Um abraço da sua amiga e admiradora

Anónimo disse...

Acho que percebi uma sintonia de cores entre o quadro e seu texto. Ao ler o texto olhava pro quadro e imaginava tudo o que descrevia.
Você é um grande artista!
Um abração amigo