Analfabetismo funcional
As estatísticas que vemos nos órgãos de informação sobre alfabetização nos mais variados contextos não são de todo correctos, pois não basta somente ter frequentado uma escola e reconhecer as letras e números, assim como ler algumas palavras (ou mesmo um texto) e fazer contas, para se ser considerado alfabetizado. Quando órgãos oficiais de certos países publicam números referentes à alfabetização nos seus territórios, os mais de 90% indicados (baseados nas estatísticas de frequência escolar) não correspondem de modo nenhum à literacia dos seus cidadãos, pois a maioria desses 90% são analfabetos funcionais.
O analfabetismo funcional é muito mais comum do que as estatísticas de alfabetização indicam. Para se ser considerado alfabetizado o indivíduo tem de ser capaz de compreender um texto, assim como utilizar a leitura e a escrita em funções do quotidiano, além de saber fazer mais cálculos e operações matemáticas que simples contas de somar e diminuir. Não, não é necessário ser doutor ou engenheiro para ser considerado alfabetizado. É preciso saber LER e PENSAR.
Quantos daqueles que têm a escolaridade mínima e até mais que essa, sabem elaborar o texto duma simples redacção? Quantos sabem pegar no folheto informativo dum novo aparelho, ou electro-doméstico, que tenham adquirido e entender as instruções? Quando alguém (com escolaridade) pede a outro que lhe explique como funciona algo, quando ele próprio está na posse do folheto de instruções, é porque é um analfabeto funcional.
É por demais comum a presença de analfabetos funcionais nas empresas e em todo o mercado de trabalho (e não apenas nos escalões inferiores das hierarquias), o que diminui em muito o seu rendimento e desenvolvimento humano e profissional. Não é por ter frequentado uma escola que se fica mais habilitado. O aprendizado é um acto contínuo e que requer uma atenção permanente.
A dobragem (dublagem, br) de filmes (tanto na TV como nas salas de cinema), reportagens e programas televisivos de origem estrangeira é um incentivo ao analfabetismo funcional. A desabituação de ler cria desabituação de pensar e raciocinar. E não basta ler os títulos e algumas linhas de jornais e revistas de mundanidades. Ler implica pegar num livro, ou mesmo num texto que seja e entender tudo o que lá vem escrito e sugerido. Ler implica interpretar, analisar e explicar o que nos é apresentado.
Em termos de cultura e conhecimento o caminho não é o facilitar. É o instigar.
6 comentários:
É impressionante como hoje em dia é comum vermos nas instituições de ensino jovens que não conseguem entender pequenos textos ou fazer pequenas redações.
Hoje são avaliados pela letra X.
Nivelaram o ensino por baixo. Não conseguem ler porque não foram habituados para isto. O hábito da leitura deveria ser um exercício diário portanto ao crescerem não sabem fazer por não terem tido contato com isto.
Como bem dizes no texto, é preciso saber ler e pensar e é penoso que hoje em dia e a cada dia que passa o prazer do conhecimento tenha se tornado um prazer de poucos quando deveria ser de muitos!
Excelente texto meu amor. Mais uma vez muito importante, atual e necessário!
Beijos
isto é q dá esta política existencialista e populista calcada em bolsas ... [escola] ...
bjux
;-)
Já peguei alunos no ultimo ano do ensino fundamental que não sabiam escrever...
Nunca havia pensado sobre os pequenos cálculos para ser considerado alfabetizado, e faz muito sentido!
bjos
São contraditórios meus sentimentos a respeito de ler, escrever, entender. Como não ficar emocionada ao ver o brilho nos olhos de quem via aqueles símbolos e jamais os entendeu? Reconhecer a dignidade de quem pode, finalmente, assinar seu nome, ser um cidadão que pode fazer escolhas?
Por outro lado, com o que está disponível e acessível para ler, fico na mesma dúvida que carrego sobre acessar informações ou não. Seria o ignorante mais feliz? O desdobramento dessa pergunta consome horas de minha cachola de pensamentos.
Uma frase daqueles elementos de uma tribo isolada, que visitaram os EUA tirou minhas certezas do lugar.
Deduziu o rapaz: Eles tem casas grandes, muitas roupas, muitas comida, porcos gordos, carros, máquinas. Agora só falta descobrirem como não morrer.
Isso parece não ter conexão com alfabetização e cultura, conhecimento e sabedoria,mas na raiz está objetivo de saber, conhecer, ter.
Voltei filósofa. hehehe!
Abração.
Concordo, hoje o jovem lê menos. O capitalismo vende a ilusão de um mundo dinâmico e soluções rápidas.
Sentar, ler em um lugar calmo, pensar, refletir, não combina com a dinâmica. É lento demais...
Pena de quem não sabe o que é o prazer da leitura.
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